sexta-feira, 8 de junho de 2012

Prometheus

Boas!
Já que estamos numa de inaugurações, começo por inaugurar a minha primeira crítica cinematográfica do blog e do ano. Eu já tinha escrevinhado qualquer coisita há uns anos, mas agora que tenho um espírito crítico mais cuidado e ponderado (se para aí estiver virado) julgo ser capaz de uma avaliação mais criteriosa no que concerne algumas obras da sétima arte.
Posto isto, passo então à análise do filme "Prometheus" da autoria do conhecido realizado Ridley Scott, alertando para o facto de esta conter spoilers, ou seja, peças chave do argumento que irão definitivamente estragar toda e qualquer surpresa para quem deseje ver o filme sem influências externas. Se for o caso, devem parar de ler.

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Ainda aí estão? Óptimo!
Então, vamos a isto.
Há 33 anos, Ridley Scott praticamente inaugurou um género novo de horror com o filme "Alien". Criou um filme tão elegante em termos de narrativa e ambiência que ainda hoje constitui uma referência. O elenco é pequeno mas consistente, cada personagem é credível e verosímil. Através de um artifício a meio do filme, uma avaria eléctrica providencia a desculpa para ter uma nave de tamanho considerável constantemente ás escuras, onde uma "coisa" desconhecida persegue a tripulação. A criatura em si constitui um marco no bestiário Hollywoodesco - e acreditem em mim, de todas as criações do Necronomicon de H.R. Giger, o alien é o equivalente à Irina Shayk (hey, baby)!
É considerado um marco na história do cinema, ganhou Óscares e prémios à direita e à esquerda, constitui uma incontornável referência na área do terror e da ficção científica que perdura até hoje. Atendendo a tudo isto, era com grande expectativa que eu esperava a estreia do filme "Prometheus", largamente publicitado como a prequela de "Alien", tanto mais que era Ridley Scott, o homem em pessoa, que estava ao leme!

A história começa quando uma equipa de cientistas encontra uma pista comum em várias explorações arqueológicas que apontam para um planeta de onde a raça humana seria originária e para o qual estariam convidados a visitar por parte dos seus criadores. Até aqui tudo bem, excepto que aquilo que os nossos bravos exploradores encontram é essencialmente uma instalação militar alienígena onde os alegados criadores (referidos carinhosamente pelos cientistas principais como os "Engenheiros", e pelo resto do pessoal como "As Bestas Quadradas") estavam alegremente a criar uma praga biológica para matar a humanidade quando a coisa deu para o torto e morreram todos antes de poderem fugir.
Cá se fazem...

É no decurso da história e na tentativa de compreenderem o que verdadeiramente se passou e juntar as peças deste puzzle intergalático-evolucional que os cadáveres adiados que constituem o elenco (maior que o original mas com uma piada consideravelmente menor) descobrem que os Engenheiros estavam alegremente a engenhar a destruição da sua própria criação e que o "convite" não passava de uma armadilha. As personagens passam do dramalhão do "Deus queria matar-me!" para a realidade "Deus está a tentar matar-me!" num tempo relativamente curto quando descobrem um sobrevivente em hibernação criogénica e que acorda com uma disposição muito pouco sociável.

Enquanto isso, duas das personagens têm o considerável azar de dar de caras com alguns dos espécimes de teste dos Engenheiros (essencialmente, lombrigas malucas) e são infectados por elas. Portanto, a tripulação tem dois tipos de alienígena atrás deles, com o privilégio de poderem escolher qual delas lhes dará cabo do canastro!

E no meio disto tudo, só me ocorreu uma coisa - eu não estou a ter a experiência "Alien"! Nada, absolutamente nada, me está a dar o cagaço que eu senti com o primeiro filme! Visualmente é muito bonito, e algumas personagens estão bem conseguidas (como o formidável David de Michael Fassbender), mas no fim sabe-me muito a pouco! Quando o filme acabou ainda levei algum tempo a processá-lo, e acabei por chegar à única conclusão lógica possível:

É uma treta!

Fiquei com a desagradável sensação de que quando um realizador com uma obra reputada e adorada por milhares de fãs começa com prequelas só pode dar nisto!
Onde o filme original era de uma claustrofobia opressiva, neste a presença de enormes espaços abertos reduz essa sensação consideravelmente! Não que as personagens andem a brincar ao ar livre, mas o simples facto de o poderem fazer age em detrimento do ambiente que se pretende criar.
Outra coisa que pesa negativamente é o facto de neste filme termos não uma única ameaça consistente, mas duas não particularmente assustadoras. O Engenheiro acorda e começa a aviar sopa em quem o acordou (só porque sim...) e uma das personagens infectadas fica uma espécie de Hulk a distribuir porrada em quem o tenta ajudar. Porquê? Sei lá - deixem as vossas ideias, porque serão sem dúvida mais interessantes de ver que aquela cena em particular!

Mas talvez o mais deprimente seja a inevitável comparação entre a solidez do argumento do "Alien" original com a deste filme, porque o argumento em "Prometheus" não faz um corno de sentido.
Senão vejamos: os Engenheiros criaram a humanidade e deixaram espalhado em vários pontos do globo, em várias civilizações antigas (meeeeesmo antigas), meia dúzia de hieróglifos que constituem o convite para a humanidade visitar o planeta onde eles estavam todos entretidos a brincar com vírus mutantes e outra cenas macacas!

Primeira pergunta: para quê?

Porque se o intuito era matar toda a gente, para quê darem-se ao trabalho de criarem uma instalação militar no cu de Judas, andarem a brincar com coisas que potencialmente se poderiam virar contra eles (o que acabou por acontecer) e estenderem um convite para uma armadilha quando podiam a qualquer altura bombardear a Terra a partir de órbita ou outra coisa igualmente drástica?
Mais grave, os cientistas encontram um Engenheiro morto há dois mil anos e descobrem que foi por essa altura que as coisas deram para o torto lá pelo burgo. A história passa-se em 2093, o "convite" é muito mais antigo.
O que raio estiveram os Engenheiros a fazer aquele tempo todo até as coisas correrem mal? A jogar xadrez á espera que os humanos aparecessem para uma sardinhada e então matá-los a todos?

Segunda pergunta: se o propósito dos Engenheiros era levar os humanos a levarem tripulantes infectados para a Terra, porque é que o único sobrevivente tenta matar os restantes?

Não faz sentido nenhum, principalmente quando este camafeu começa, com toda a calma, a preparar a nave dele para poder levar as criaturas bio-desenhadas para a Terra. Então este tarolo estava em hibernação há dois mil anos e uns trocados quando podia ter pilotado a nave para a Terra a qualquer altura? Então o "convite" era para quê? Para que os Engenheiros não se tivessem que dar ao trabalho de levar a tralha toda para a Terra? Tinham medo de levar com um míssil nuclear na tola? Mas o "convite" datava de um altura que a humanidade nem tinha o ZX Spectrum para jogar "Pong"! Podiam ter aparecido quando lhes tivesse sido mais conveniente, num intervalo para o café por exemplo, enquanto brincavam ao Populus...

No geral, a única palavra que me ocorre quando revejo este filme é "desilusão"! Ridley Scott tem em mãos o potencial para um história épica, com algumas ideias verdadeiramente boas e o visual para as complementar, mas afunda tudo numa história sem pés nem cabeça que não chega aos pés da história original que consituiria a sua sequência lógica.
Se me perdoam a expressão, o homem "Prometheus", mas não cumpriu!

2 comentários:

  1. Ainda não tive oportunidade de ver o filme, mas confesso que estou curioso. Tanto por ser um filme do Ridley Scott como por a actriz principal ser a Noomi Rapace. ;)

    Abraço. :)

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    1. Eu também estava muito entusiasmado com a perspectiva de uma prequela do Alien original, que é um dos meus filmes favoritos! Não é à toa que é considerado um marco do cinema, praticamente inaugurou um novo género de terror sozinho! Garanto que passei uma péssima noite depois de o ter visto a primeira vez, há tantos anos!
      Prometheus não é esse tipo de filme! Não se esforça sequer em tentar ser esse tipo de filme, e é o candidato ao filme mais desapontante do ano!

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